Foram dois dias de partilha de boas práticas entre a academia e a comunidade, incluindo os tópicos mais prementes da atualidade – caso da transição climática justa e da habitação. Mas os NOVA Sustainability Days 2023 tiveram ainda como saldo a assinatura de um protocolo que visa estabelecer um roteiro para a neutralidade e resiliência climática de toda a Universidade NOVA de Lisboa, e que possa inspirar o resto da academia.
O anúncio chegou na manhã do segundo dia do encontro pela voz de Júlia Seixas, Pró-Reitora que coordena a plataforma estratégica NOVA 4 the Globe e mobilizou toda a universidade para esta 2ª edição dos NOVA Sustainability Days, que decorreram nos dias 16 e 17 de outubro. Dedicado às parcerias, o encontro contou com a participação de todas as escolas e institutos da NOVA, os responsáveis das empresas parceiras, estudantes e ainda a Ministra da Habitação, Marina Gonçalves, e Filipa Roseta, a vereadora da Câmara Municipal de Lisboa com o mesmo pelouro.
“A academia tem uma grande responsabilidade na questão da sustentabilidade e da transição climática”, sublinhou Júlia Seixas, reconhecendo que o tema é complexo, mas também urgente. “É preciso agir. O que propomos é dar as bases técnicas, económicas e sociais que possam contribuir para a redução da pegada carbónica.”
ODS, publicações científicas e boas práticas…
O primeiro dia do encontro foi ocupado com webinars, dedicados aos mais variados temas, sobressaindo o caso apresentado pela Elsevier – que apontou como a inclusão da sustentabilidade e dos ODS na produção científica valoriza a mesma e pode ouvir de novo no canal de Youtube da NOVA.
Dedicado às parcerias – e à importância de uma relação de confiança entre a academia e a comunidade – o segundo dia começou com a partilha do caso do Campus Sul, um consórcio que junta a NOVA à Universidade de Évora e à Universidade do Algarve.
“A base do trabalho é colaboração, de forma a obter um impacto positivo nas questões da sustentabilidade no território a sul do país”, salientou o Reitor da Universidade NOVA de Lisboa, João Sàágua, congratulando-se com o sucesso de um projeto que, contando ainda com o apoio de parceiros europeus, junta universidades e forças vivas no terreno.
Foi o mote para o painel seguinte. “Podemos questionar o que é uma universidade sustentável e a resposta é simples: é a que tem impacto na sociedade que a sustenta”, começou por assinalar Cláudio Soares, Pró-Reitor que coordena a área da Saúde na NOVA, antes de apresentar 5 binómios entre a universidade e a sociedade, 5 parcerias de sucesso.
Caso da NOVA Information Management School (NOVA IMS) e a Comunidade Intermunicipal do Oeste, com o projeto das Smart Regions, que visa otimizar a gestão do território – apresentado no ano passado na feira mundial das cidades, e este ano internacionalmente distinguido.
NOVA Medical School e da Superbock partilharam como procuram o melhor equilíbrio entre bebidas e saúde; Escola Nacional de Saúde Pública e Roche explicaram como estão a capacitar associações de doentes, fomentando uma relação de transparência, por exemplo, no desenvolvimento de novos fármacos. “Se as associações de doentes tiverem capacitadas também as ajuda na sua sustentabilidade e sobrevivência financeira”, sublinhou Cláudia Ricardo, da Roche – sem deixar de dizer que falta ainda uma aproximação dos ritmos da academia com o mundo empresarial.
Já o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT NOVA) e ARS Alentejo demonstraram como o estudo das zoonoses pode contribuir para a proteção das populações, enquanto que o Instituto de Tecnologia Química e Biológica Dr. António Xavier (ITQB NOVA) e a Sea4us revelaram como estão a aproveitar as mais valias do mar – sublinhando que “a sustentabilidade do ecossistema marinho é imprescindível para a saúde humana e para a preservação dos mesmos, ou seja a relação é simbiótica, com benefício mútuo.”
Apresentada pela Vice-Reitora Isabel Rocha, que coordena a área da investigação e criação de valor na NOVA, a mesa-redonda seguinte juntou mais quatro exemplos de boas práticas – entre a Nova SBE e a Fidelidade; a NOVA School of Law e a Vieira de Almeida &Associados; a NOVA FCSH e o ICNF; e ainda entre a NOVA FCT e o Troia Resort, o caso eventualmente mais conhecido do público e que tornou a proteção das colónias de golfinhos e morcegos um valor acrescentado para o turismo da região, como sublinhou o investigador da NOVA FCT e ativista do ambiente nos tempos livres João Joanaz de Melo, muito conhecido também por ter sido fundador e presidente do GEOTA – Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e Ambiente.
… painéis solares, apoios financeiros e transição climática justa
Os dois últimos debates – que pode ver ou rever no canal de Youtube da NOVA a partir do min 5h17 – focaram dois temas da maior atualidade.
É o caso da transição climática justa, debate que juntou estudantes da NOVA e representantes da ADENE – Agência para a Energia, da empresa de energia solar Greenvolt e ainda do Santander, que, entre outros, tem apoiado projetos da NOVA na área da inovação e tem uma cátedra na NOVA FCSH focada na sustentabilidade.
“Ainda vamos a tempo de conseguir atingir os objetivos até 2030, mas tem de ser um ciclo de ambição constante de todo o mundo”, alertou Ana Paula Rodrigues, da ADENE. “O que faz falta é que sejamos capazes de inovar, que não fiquemos à espera do que não existe e façamos o que existe hoje”, insistiu João Manso Neto da Greenvolt; ao que Amílcar Lourenço, do Santander, ripostou garantindo que “não falta financiamento para as renováveis”.
Os estudantes presentes no painel, esses, fizeram questão de lembrar: “não somos só o futuro, somos também o presente” e ainda que, no seu entender, “estamos a olhar para o problema na perspetiva errada”, dado que Portugal é o 4º país da União Europeia com a maior percentagem de pessoas que não conseguem aquecer a própria casa…
Ali se lembrou então que “há um programa do PRR que é para a eficiência que procura apoiar as pessoas mais vulneráveis e com famílias de menor rendimento a reduzir a falta de conforto térmico nas suas casas” (Ana Paula Rodrigues); “A nossa responsabilidade não é deixar de apoiar as empresas emissoras; é ajudá-las a transição nos próximos anos” (Amílcar Lourenço); até porque “temos uma legislação extremamente avançada nesta área” (Manso Neto).
Mas, como bem interrogou a Pró-Reitora da NOVA Júlia Seixas, então “porque não há mais painéis solares nos telhados do país?”, insistindo que “faltam incentivos para fazer a revolução também nos transportes” e desafiando o sistema financeiro a “aprovar programas de apoio e a divulgá-los para ser mais apelativo”.
Educação, investigação, inovação, sustentabilidade…habitação?
O último painel do dia, dedicado à habitação, não foi menos concorrido. “É uma questão de direito e também uma questão ecológica”, sublinhou João Seixas, o Pró-Reitor que coordena a área da Inovação Socio-Territorial na NOVA – e que ali logo lembrou que “a cidade é o assentamento humano mais ecológico” e que, quando a sociedade se organiza dessa forma, “a vida em comunidade torna-se mais eficiente e, com isso, mais democrática”.
Aquilo a que se assistiu a seguir foi uma oportunidade de ouvir em conjunto quem não costuma estar: os estudantes, mas também a ministra da Habitação, Marina Gonçalves e a vereadora com o mesmo pelouro na autarquia de Lisboa, Filipa Roseta.
“Cabe ao estado ser parte da solução”, assumiu a ministra Marina Gonçalves, avançando que “já existem instrumentos para dar apoios a quem precisa” e que “está para avançar em breve a possibilidade de ser os arrendatários a registarem o contrato” e assim pedirem esse apoio. Filipa Roseta acrescentou ainda que a câmara de Lisboa está a “partilhar o custo das rendas a todos os que estejam nos parâmetros definidos”. Marina Gonçalves fez ainda questão de dizer está em curso o relançamento das cooperativas de habitação: “a nossa grande prioridade é o nosso território”, deixando ainda nota para consultarmos todos, regularmente, o Portal da Habitação.
No fim, como bem resumiu a Pró-Reitora Júlia Seixas, e depois de termos percorrido o tema nas suas múltiplas dimensões, o cenário não deixa dúvidas: “A sustentabilidade é como o nome do filme: Tudo em todo o lado ao mesmo tempo”.